Novos Baianos Futebol Clube


“Mais perto do seu som. No seu mundo sobreterrâneo. À beira do abismo. Por fora de “ismos”. Na porta. Varrendo o terreiro. Lavando os pratos como quem faz música. Sem prantos, na fonte, na boca da criação. Na terra, moramos num sítio. O cantinho do vovô. Tudo como no sonho do meu avô. O sonho do homem - baiano 100%: a casa cobre da chuva, na rua me faço, me vivo e levo você. Na rua me mato tranqüilo, porque não sou menino. A bola já está comigo e os dois beques colados às minhas costas me obrigando ao drible. Eu vivo disso, sou garrincha por convicção. Sou Tostão pra não me machucar. Não há filosofia além disso, só o novo. O criado em cada minuto. E não tem dois tempos pra quem anda. A dúvida tem só a direção de um lance. Ser junto, ser mais de dois (o sonho dourado da família). Encontro constante e continuado com o fiozinho de nada que é você. E chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar o seu valor.  

Viemos de uma geração velha, cansada de guerra. E crescemos sob os fluidos da brincadeira de bandido e artista, tela e palco. Somos de depois da guerra. Nem a soma nem a diferença. Somos depois de todos os papos alguém no meio da rua. “Eu peço a palavra”. 

Alguém no meio da rua, sem autorização nenhuma, cumprindo a sua. Resolvendo ao seu redor e por dentro. Tinindo e Trincando. Alguém tem que segurar a barra. Agora mesmo eu não sei se despejo a casa dos marimbondos da minha casa. 

Ontem, uma muriçoca me mordeu no braço e com o outro ia matando-a, mas o consciente me disse: num é nem defesa própria. Mesmo assim matei, sem ódio, por medo. Com os marimbondos, vou experimentar diferente. Vou ser brasileiro. Só vou fechar depois de roubado. Ou baiano passando pelo buraco do ladrão na maior.
Bom é acordar com o som dos passarinhos e depois o violão. Olhe a batida de Moraes Moreira, que não é de limão…
…Nos dizemos as coisas pra nós mesmos e vamos nos dizendo até não nos lembrarmos mais. Só sabermos”. (Luiz Galvão)

Uma boa parte desse belo texto é narrado no documentário que é tema deste post. Para quem não sabe, segundo a Wikipedia, os Novos Baianos foram um conjunto musical brasileiro, nascido na Bahia, ativo entre os anos de 1969 e 1979. Eles marcaram a música popular brasileira e até o rock brasileiro dos anos 70, utilizando-se de vários ritmos musicais brasileiros que vão de bossa nova, frevo, baião, choro, afoxé ao rock n' roll. O grupo lançou oito trabalhos antológicos para MPB. Influenciados pela contracultura e pela emergente Tropicália. Contava com Moraes Moreira (compositor, vocal e violão), Baby Consuelo (vocal), Pepeu Gomes (Guitarra), Paulinho Boca de Cantor (vocal), Dadi (baixo) e Luiz Galvão (letras) entre outros.

Novos Baianos F. C., foi gravado há 35 anos para uma emissora de TV alemã e que permanece quase inédito até hoje no Brasil. Em todo o documentário, os membros do grupo são flagrados em ações cotidianas, jogando futebol, cuidando de crianças e, claro, fazendo música. É um retrato fiel do estilo riponga do qual os Baianos eram um ícone no começo dos anos 70, além de mostrar uma das mais belas fusões das paixões dos brasileiros: o futebol e a música. 

As músicas desse documentário são de dois discos antológicos da Música Popular Brasileira, "Acabou Chorare" e "Futebol Clube", do momento mais criativo da banda. A abertura com Brasil Pandeiro de Assis Valente, imortalizada pelos Novos Baianos, e na sequência clássicos, como "A menina dança", "Preta Pretinha", ao vivo no quintal no sítio Cantinho do Vovô, em Jacarepaguá, local onde os Novos Baianos viviam numa comunidade familiar de paz, amor e muita música. 

O filme rendeu ao diretor, Solano Ribeiro, uma premiação no Festival Europeu de Televisão, realizado na Áustria. O produtor é conhecido como o idealizador dos famosos festivais de música popular brasileira da TV Record. Entre outros artistas, lançou Elis Regina, Nara Leão, Chico Buarque, Tom Zé, Mutantes e Raul Seixas.

Como o documentário é de difícil acesso, me coloco a disposição para quem tiver o interesse de assisti-lo. Nada que um bom pen drive não resolva esse problema.

Pedro Sarolli

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